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Você conhece a história da Fazenda Capão Alto em Castro/PR?

    Em 1751, a comunidade religiosa Carmelita comprou a fazenda Capão Alto em Castro, nesta época, localizada no caminho de Viamão. No lugar indicado pela flecha azul no mapa abaixo:


Adaptado de: CAMINHO DE VIAMÃO. Disponível em: http://images.slideplayer.com.br/7/1822244/slides/slide_10.jpg. Acesso em: 04/03/2018.

    Castro era um dos lugares onde os tropeiros (clique aqui) paravam para descansar e depois prosseguiam viagem com o gado que era levado para ser vendido, principalmente nas feiras em Sorocaba-SP.

Os padres carmelitas foram embora, quem ficou administrando a fazenda?

    Depois de muitos anos, os carmelitas deixam a região de Castro e por esse motivo, à fazenda Capão Alto passa a ser administrada pelos escravos que nela viviam. A historiadora Joice Fernanda de Souza Oliveira explica esses acontecimentos:

[Os carmelitas] deixaram o escravo Inocêncio incumbido de administrar as fazendas e outros cativos responsáveis por fiscalizar o trabalho de seus companheiros cativos. Por conta disso, dizia-se em Castro que os escravos no Capão Alto tinham criado uma comunidade independente, um quilombo, onde residiam em diversas senzalas e cultivavam alimentos básicos. Contavam que os cativos faziam trocas de alimentos, seja no centro de Castro, seja com os tropeiros que por ali passavam. Fonte: OLIVEIRA, Joice Fernanda de Souza. Os devotos de “Sinhara”: A experiência de forasteiros paranaenses em Campinas, 1868-1888. 2014.p.03.

    Observe mais uma coisa, mesmo com a pequena população escrava em todo estado do Paraná, muitos deles desempenham funções importantes na administração, construção de casas e edifícios, cuidados dos animais e das lavouras. No século 19, muitos proprietários não moravam em suas próprias fazendas e por esse motivo, tinham que confiar a administração delas as pessoas de sua confiança. Por essa razão, muitos escravos de confiança chegaram a posições mais elevadas do que outros.

A revolta dos escravos e escravas em Castro.

    Durante a segunda metade do século 19, o fim do tráfico de escravos preocupava muitas pessoas, por conta da dificuldade de trazer mão de obra da África. Por esse motivo, a falta de escravos levou muitas fazendas de café, principalmente de São Paulo, a comprá-los de outras regiões de dentro do Brasil, prática conhecida até os dias de hoje como TRAFICO INTERPROVINCIAL.

    Em 1864, os padres carmelitas arrendaram à fazenda Capão Alto a empresa Gavião, Ribeiro & Gavião, a qual decidiu utilizar a mão de obra dos seus escravos, nos cafezais e outras atividades desenvolvidas em São Paulo. Diante dessa novidade, foi grande a surpresa desses escravos quando souberam que a qualquer momento, teriam que deixar Castro, onde muitos viviam como se fossem pessoas livres, há vários anos.

    Já imaginou ser surpreendido (a) com a informação de que você perderia a sua liberdade! Foi esse um dos motivos da revolta dos escravos em Castro. O historiador Eduardo Spiller Pena dá uma ideia das coisas que aconteceram na fazenda Capão Alto, depois que a notícia inesperada foi recebida:

[...] os negros haviam preparado um arsenal para a luta [...] havendo a presença nas senzalas de um grande número de facas do serviço de Campo, espingarda e pistolas carregadas com bala, material suficiente para um estopim de grandes proporções. Fonte: PENA, Eduardo Spiller. “Burlas à Lei e revolta escrava no tráfico interno no Brasil Meridional, século XIX”. LARA, Silvia Hunold e MENDONÇA, Joseli Maria Nunes. Direitos e Justiças no Brasil: Ensaios de história Social. Campinas: Editora da Unicamp, 2006.p.176.

    Observe que os escravos não aceitaram a ideia de deixar a fazenda e estavam dispostos a lutar para permanecer nela. Por conta dessa insistência, a empresa Gavião, Ribeiro & Gavião solicita ajuda da polícia para retirá-los.

    Em 10 de maio de 1864, a fazenda Capão Alto foi cercada pela polícia de Castro e Curitiba que colocou fim a revolta ao prender seus líderes. Devido a esses acontecimentos, o caminho fica aberto para a empresa Gavião, Ribeiro & Gavião fazer o tráfico interprovincial de 236 escravos para São Paulo.

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